Atividades Lúdicas no Desenvolvimento da Criança
"PIAGET elaborou uma classificação baseada na evolução das estruturas mentais. Existem três formas básicas de atividade lúdica que caracterizam a evolução do jogo na criança de acordo com a fase do desenvolvimento em que aparecem:
- Jogos de Exercício Sensorimotor - Caracterizam a etapa que vai do nascimento até o aparecimento da linguagem, apesar de reaparecerem durante toda a infância. O jogo surge primeiro, sob a forma de exercícios simples cuja finalidade é o próprio prazer do funcionamento. Esses exercícios caracterizam-se pela repetição de gestos e de movimentos simples e têm valor exploratório. Dentro desta categoria podemos destacar os seguintes jogos: sonoro, visual, tátil, olfativo, gustativo, motor e de manipulação.
Ex: Instrumentos musicais de brinquedo ( xilofone, pianinho, reco-reco...); paineis de movimento e coordenação ( cominho do rato, passa forma animado, dominó de percepção visual...); Caixa tátil, memória tátil...; aramados, brinquedos de encaixe, monta e desmonta...; cubos, bolinhas, etc...
- Jogo Simbólico - Entre os dois e os seis anos a tendência lúdica predominante se manifesta sob a forma de jogo simbólico. Nesta categoria o jogo pode ser de ficção ou de imitação, tanta no que diz respeito à transformação de objetos quanto ao desempenho de papéis. A função do jogo simbólico consiste em assimilar a realidade. É através do faz-de-conta que a criança realiza sonhos e fantasias, revela conflitos interiores, medos e angústias, aliviando tensões e frustrações. O jogo simbólico é também um meio de auto-expressão: ao reproduzir os diferentes papéis (de pai, mãe, professor, aluno etc.), a criança imita situações da vida real. Nele, aquele que brinca dá novos significados aos objetos, às pessoas, às ações, aos fatos etc., inspirando-se em semelhanças mais ou menos fiéis às representadas. Dentro dessa categoria destacam-se os jogos de faz-de-conta, de papéis e de representação (estas denominações variam de um autor para outro).
Ex: Casa na árvore, casinha de bonecas, caixa de ferramentas, fazendinha, fantoches, bonecas de estória, família em bonecos, livros interativos, etc...
- Jogos de Regras - Começam a se manifestar entre os quatro e sete anos e se desenvolvem entre os sete e os doze anos. Aos sete anos a criança deixa o jogo egocêntrico, substituindo-o por uma atividade mais socializada onde as regras têm uma aplicação efetiva e na qual as relações de cooperação entre os jogadores são fundamentais. No adulto, o jogo de regras subsiste e se desenvolve durante toda a vida por ser a atividade lúdica do ser socializado."
Ex:Brinquedos para recreação em grupo (equilibrista, pega varetas, pega-pega, esconde-esconde...), jogos de cartas, tabuleiro etc...
"No jogo motor e individual (desde o nascimento até os três anos), a criança brinca sozinha, fazendo várias coisas com os objetos: pega, mexe, levanta, junta, sacode, esconde, acha objetos. etc. No jogo egocêntrico (entre dois e seis anos), a criança imita e também brinca sozinha ou paralelamente com outras crianças, mas sem a intenção de ganhar: o outro não importa. Aos cinco, seis anos mais ou menos, a criança começa a adquirir a capacidade de descentrar e se ver em relação a outras crianças. Quando isto acontece, ela começa a comparar resultados e a coordenar as intenções do outro."
"É importante compreender que a criança pré-escolar (dois a seis anos) tem um pensamento diferente quando está frente a uma brincadeira de grupo que implica competição. Por exemplo, sua atitude frente a uma corrida é a de que cada um pode ganhar; quando brinca de esconde-esconde a criança, muitas vezes, "mostra" onde está escondida; em "Corre-Cotia" o pegador pode correr em volta da roda sem realmente fazer esforços para pegar o colega."
"O poder do adulto deve ser reduzido para motivar a cooperação entre as crianças, permitindo que elas tomem decisões por si mesmas, desenvolvendo, assim, a sua autonomia intelectual e social."
"Se tivermos bem claros os objetivos para a educação pré-escolar e o jogo escolhido promover esses objetivos, a escolha tornar-se-á simples:
• desenvolver a autonomia através de relações seguras nas quais o "poder" do adulto seja reduzido o máximo possível;
• desenvolver habilidades de autonomia e coordenação de diferentes pontos de vista;
• despertar nas crianças a curiosidade, a atenção, o senso crítico, assim como a confiança."
Publicação: Série Idéias n. 7. São Paulo: FDE, 1995
Páginas: 54 a 61
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